Sede da Fatma Fapesc

Florianópolis – SC – 2012
cliente: FATMA/FAPESC
área construída: 3.920 m²

A base para a nova edificação da FATMA / FAPESC foi a formalização claramente definida de cada função do programa, dentro das definições dos parâmetros urbanísticos e com a incorporação dos conceitos de sustentabilidade e eficiência energética.

A partir desse conceito foi criado o pavimento de pilotis, local público, de acesso à edificação, de contemplação, integrado com o ambiente urbano e com o terreno. Ele define a divisão formal dos blocos: acima se localizam os quatro pavimentos da FATMA e abaixo os dois pavimentos da FAPESC. Dois volumes com suas características próprias, mas totalmente integradas.
Esta composição heterogênea procurou fugir da solução volumétrica mais óbvia e ao mesmo tempo promover diferentes tratamentos das envoltórias do prédio com o exterior, fortalecendo o seu caráter educativo sustentável.

PILOTIS

O pilotis foi localizado no terceiro pavimento da edificação, conforme permitido pela legislação em vigor, e é um espaço pensado para criar uma integração maior entre os ambientes públicos e os ambientes privados, porém mantendo a segurança e privacidade exigidos pelo projeto.

É um ambiente de encontro, de contemplação das vistas panorâmicas da cidade. É no pilotis que se encontra o acesso à recepção do prédio, que divide as funções, e determina a direção à ser tomada . Nele também foram projetados os auditórios e a biblioteca, permitindo que esses espaços possam ser utilizados por todos os usuários do prédio, bem como do público externo.

O pilotis pode ser acessado diretamente da rua, tanto pelo nível inferior do terreno, quanto pelo nível superior ao final do complexo do Parque Tecnológico Alfa. O terreno e o paisagismo se fundem ao pavimento do pilotis e uma passarela permite a continuidade pelo terreno até a parte superior da rua do condomínio.

O vazio criado pelo espaço físico do pilotis define formalmente as volumetrias da FATMA e da FAPESC.

FATMA

A volumetria composta pelos quatro pavimentos superiores agrega as funções necessárias para a FATMA, constituindo um volume linear, orientado no sentido leste-oeste, minimizando a insolação, porém permitindo a boa visibilidade externa.

Cada fachada apresenta uma solução diferenciada de acordo com a insolação, com as vistas externas, e com as necessidades de iluminação natural. As fachadas norte e sul são envidraçadas, com esquadrias fixas conjugadas com esquadrias móveis pivotantes, podendo abrir parcialmente para permitir a ventilação natural. Decidimos pelo uso de grandes áreas de vidro duplo para permitir uma boa visibilidade externa e iluminação natural. Para evitar a radiação solar nestas fachadas projetamos uma estrutura de chapas metálicas expandidas de alumínio.

Na fachada oeste, devido a melhor vista externa, usamos o vidro, mas em grandes portas de correr, abrindo para pequenas sacadas, juntamente com painéis móveis de madeira, que permitem o bloqueio total do sol, quando for necessário. A fachada leste não possui aberturas, com vedação de alvenaria, e protegida por uma tela leve metálica que funciona como suporte para vegetação. Na cobertura do prédio criamos um terraço de descanso para os funcionários, um terraço para contemplar a vista da cidade.

Uma malha de estrutura metálica funciona ao mesmo tempo como sombreamento da cobertura e suporte para a fixação de placas de aquecimento de água. A cobertura também é parcialmente ocupada por chillers de ar-condicionado e casas de máquinas.

FAPESC

A partir do acesso principal no pilotis, as funções do FAPESC foram implantadas nos dois pavimentos abaixo. As áreas dos pavimentos são pouco maiores que os pavimentos superiores, adequadas para a correta distribuição das funções do programa de necessidades.

Por estar localizada nos níveis inferiores, criamos uma volumetria diferente do bloco da FATMA, que aproveite mais a luz natural, e minimize a demolição de rocha. A proteção das envoltórias também é diferenciada, já que o terreno naturalmente protege as fachadas. Utilizamos esquadrias de vidro protegidas por portas de madeira em forma de muxarabi . Tais elementos são articulados externamente.

O bloco da FAPESC também possui uma relação externa com jardins criados sobre a laje do estacionamento e sobre a escavação da rocha ao seu redor. Essa área torna-se também uma local de fruição e de descompressão para os funcionários.

ESTACIONAMENTO

Para os pavimentos inferiores de estacionamento fizemos um cálculo de quantidade de rocha que precisaria ser escavado. Ao invés de ocupar toda a área permitida de subsolo de 1572,00 m2, adotamos uma lâmina de 1042,00 m2, aumentando a quantidade de pavimentos de subsolo, porém escavando um volume menor de terreno. Além disso, a escavação em profundidade através da técnica de “fogo de bancada” é mais econômica que escavar uma grande extensão de rocha.

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E ESTRATÉGIAS BIO-CLIMÁTICAS

As decisões adotadas na edificação da FATMA/FAPESC são claras e objetivas, determinadas pela correta proteção do excesso de insolação e do controle adequado da temperatura dos ambientes. As envoltórias são protegidas por áreas envidraçadas com vidro duplo e alvenarias, proporcionando um alto isolamento térmico. Além disso, utilizamos diferentes sistemas de proteção das fachadas em cada orientação, evitando qualquer radiação que aumente a carga térmica interna.

A ventilação natural é aproveitada para os períodos mais amenos, onde não há necessidade de ar-condicionado e também porque proporciona uma melhor qualidade de ar. As janelas são do tipo pivotantes, que proporcionam maior área de ventilação com menor quantidade de painéis de esquadria, e possuem um excelente sistema de vedação, essencial para os períodos mais quentes.

Para o sistema de condicionamento de ar propomos o uso de chillers à ar e fancoletes individuais, sem o uso de dutos. Este sistema é adequado para a dimensão total da edificação, além de permitir maior flexibilidade nas mudanças de layout e não necessitar de uma sala específica para os fancoils. Os chiller à ar existentes atualmente no mercado são mais “sustentáveis” pois não desperdiçam água. Pela dimensão dos pavimentos, se torna desnecessário o uso de dutos – que além de requerer maior custo inicial e maior manutenção, é menos flexível para mudanças de layout, necessita de grande área do teto, e pode gerar contaminação do ar. Também estamos prevendo com esse sistema o uso de novos equipamentos que possam ser utilizados futuramente, à base de água gelada.

Para complementar a iluminação natural, pensamos em um sistema conjugando lâmpadas fluorescentes e leds, com iluminação localizada nas mesas e iluminação geral complementar no teto.

MOBILIDADE

O Parque Tecnológico Alfa é localizado próximo a um importante eixo viário de Florianópolis, mas não possui em seu entorno imediato uma vitalidade urbana intensa. Os prédios do parque ficam em uma rua sem saída com grande declividade. Portanto somente usuários dos prédios entram nessa área, e em grande parte, utilizando automóveis.

Por este motivo a tipologia do complexo é voltada para o uso de veículos. A intensão de tornar o entorno do prédio da FATMA/FAPESC urbanamente mais agradável objetiva principalmente facilitar o acesso e criar ambientes de permanência para os usuários dos prédios e visitantes. Propomos uma intervenção urbanística e paisagística, que integre mais as calçadas com os terrenos e prédios, como um parque linear, que incentive a movimentação a pé e o uso do transporte público. Consideramos adequado a implantação (presente ou futura) de um funicular com contrapeso, ao longo da lateral do terreno do parque.

Uma vez que já existem caminhos ligando a parte mais baixa aos prédios do topo do terreno acreditamos ser importante consolidar esses fluxos, no nosso caso através do pavimento de pilotis, onde os pedestres possam acessar a parte mais alta do Parque Tecnológico. Também procuramos dar o tratamento da escala humana para o edifício, inserindo elementos paisagísticos, espelhos d’água, esculturas, patamares e ambientes interligados através de escadas e rampas.

GESTÃO DE ÁGUA

O correto tratamento das águas de chuva no projeto é fundamentalmente importante, por estar localizado sobre uma área de rocha, e sua permeabilidade ser muito pequena. O uso de escavações e subsolos no terreno agravam a situação. Por este motivo, criamos um sistema de canais (biovaletas) e bacias de contenção (swales ou biodetentoras), ao longo do terreno, contornando a borda da área escavada, e integrando com espelhos de água no pilotis.

Sugerimos a adoção do mesmo sistema para todo o complexo do Parque Tecnológico Alfa, em substituição ao atual sistema de calhas e caixas de concreto. As Biodetentoras são áreas de vegetação sobre caixas de acumulação de água, compostas por brita, areia e terra e mantas filtrantes. A vegetação absorve e filtra parte da água e o sistema como um todo retarda o escoamento das águas de chuva.

A água de chuva acumulada na edificação também é acumulada para reaproveitamento na irrigação dos jardins, na vegetação fixada na fachada leste e para uso nas descargas sanitárias.

PAISAGEM E CONTEXTO URBANO

Os fatores como topografia, vitalidade urbana, paisagem do entorno e propósito da edificação foram definidores do partido do projeto. A partir da análise desses fatores foi adotado o viés de implantação de baixo impacto e com recortes mínimos permitidos pela legislação local. Ao mesmo tempo, a composição formal da edificação permite em diferentes escalas leituras diferenciadas: junto a formação topográfica, a edificação se mostra adensada à paisagem, e possui de perto uma importante comunicação de força e vitalidade.

MATERIAIS E RESÍDUOS

O uso do concreto armado se justifica pela atmosfera agressiva do local, o que minimiza a manutenção, além de ser em nosso caso a opção mais econômica. Os pavimentos tem planta livre, com uso de divisórias ecológicas quando é necessário o fechamento dos ambientes. Nos subsolos e nos pavimentos inferiores utilizamos as áreas demolidas de rocha como a própria vedação do pavimento, não sendo necessárias alvenarias. As rochas demolidas são incorporadas nos pisos e muros do pilotis e no paisagismo, minimizando a quantidade de material descartado.

As chapas e brises da FATMA são constituidos e suportados por estruturas de alumínio natural e na FAPESP os muxarabis de madeira reflorestada.

ESTRUTURA

Consideramos necessária a flexibilidade dos layouts, por este motivo a solução proposta é a adoção do conceito de planta livre em toda a edificação, que permite inclusive a ampliação dos espaços.

Considerando a melhor técnica construtiva que atenda as necessidades da planta livre e tomando como base a experiência construtiva do Brasil, decidimos pelo uso da estrutura em concreto armado. Desta forma, resolvemos a questão do número de pilares através da adoção da laje nervurada em toda a extensão. O uso reduzido de pilares potencializa a questão formal do edifício no pavimento de pilotis.

Nos estacionamentos em subsolo aumentamos a quantidade de pilares, e usamos lajes cogumelo, para que os pés-direitos sejam os menores possíveis, e possamos minimizar as escavações. Utilizamos também a própria rocha escavada como apoio para as lajes e vedações.

Apenas na biblioteca no pilotis usamos perfis metálicos que ao mesmo tempo são esquadria e estrutura do jirau.

EVOLUÇÃO E INOVAÇÃO

Propormos uma solução formal diferenciada dentro do Parque Tecnológico, que apresenta o uso de tecnologias tradicionais de sustentabilidade, eficiência energética e conforto ambiental por uma nova perspectiva, onde o usuário é instigado à procurar entender os seus significados. Estas tecnologias foram conectadas à edificação por estruturas que permitem a fácil manutenção, e também a possibilidade da mudança. Todas as soluções de proteção da envoltória da edificação podem ser substituidas por outras soluções, aproveitando o mesmo suporte. O pergolado metálico da cobertura protege do sol e pode suportar placas de aquecimento de água, placas fotovoltaicas, ou outros equipamentos.

RESPONSABILIDADE SOCIAL

Acreditamos que a edificação em si não pode ser resumida a uma condutora de valores da sustentabilidade, pois os problemas evidenciados por essas questões extrapolam os limites da arquitetura, e requerem bem mais do que apenas sugestões ou recomendações. Desta forma, optamos pela postura de nossa edificação pensada sob a ótica da verdade: criamos as soluções formais e técnicas que acreditamos serem resultado das necessidades. A forma inventiva como estas soluções são implementadas instigam questões e reflexões, e assim, promovem a formação do conhecimento.

Equipe:
Marco Milazzo
Gustavo Rosadas
Tom Caminha
André Thurler
Ana Butturini