Museu do Meio Ambiente

Rio de Janeiro – RJ – 2010
cliente: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro / MMA
área construída: 2.670 m²

O Partido

Diante da possibilidade de intervir em um conjunto histórico da magnitude do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, sobretudo em sua entrada, aberta ao público e marcada por arquiteturas de valor histórico e artístico, consideramos fundamental estabelecer uma relação harmônica entre o conjunto pré-existente e as novas intervenções. Assim, a integração com a paisagem se converte em um partido adotado no projeto, tanto na arquitetura quanto no paisagismo, valorizando as interfaces com o Jardim Botânico e os prédios históricos. Desta forma, é atribuído à paisagem o papel de protagonista do espaço, onde as edificações se inserem de forma sóbria, demonstrando suas características particulares sem competir por atenção.

A Escala

Considerando a situação das duas intervenções arquitetônicas, cada qual ao lado de um edifício histórico preservado, procuramos estabelecer uma escala tal que a dimensão das novas construções não competissem com a dos seus vizinhos, estabelecendo uma hierarquia que valoriza o conjunto histórico. Esta relação de escala ocorre sem prejuízo da qualidade arquitetônica das novas edificações nem do programa estabelecido. Através de recortes no terreno e pavimentos semi-enterrados, o impacto visual dos edifícios foi amenizado sem reduzir o espaço necessário para as atividades do Museu.

A Linguagem

Entendemos que a Arquitetura deve revelar o seu período histórico de construção, através da técnica, uso dos materiais e, sobretudo, da linguagem resultante do projeto. Deste modo, nossas propostas seguem uma linha projetual contemporânea, tanto no paisagismo quanto na arquitetura, respeitando o conjunto histórico sem procurar reproduzi-lo. Tal postura permite o entendimento claro dos diferentes períodos que deram forma ao espaço, sem estabelecer ruptura ou estagnação do processo histórico, nem destacar um determinado estilo arquitetônico sobre os demais. O mesmo se aplica ao novo paisagismo, que propõe uma continuidade com o jardim preservado, incluindo elementos contemporâneos, como os canteiros de aço patinado e os desenhos geométricos, inspirados no modernismo brasileiro. Além da coerência com o período contemporâneo, também procuramos estabelecer uma relação entre as novas arquiteturas, que demonstre certa unidade projetual. Esta unidade foi obtida, apesar das diferenças impostas pelas particularidades de cada edifício, em função de qualidades tectônicas semelhantes. A arquitetura assume, então, um caráter expressivo, que se integra ao conjunto de forma harmônica e elegante.

A Sustentabilidade

Consideramos sustentabilidade um conceito ainda em formação, atravessado por diferentes matrizes discursivas, que resultam em estratégias projetuais variadas. Deste modo, descartamos qualquer norma ou modelo engessado de arquitetura “verde” e orientamos nosso projeto segundo três eixos fundamentais para o seu equilíbrio sócio-ambiental: Eficiência Construtiva, Conforto Ambiental e Integração com a Paisagem. Apesar do forte apelo dos projetos ditos “ecológicos”, optou-se por não fazer deste conceito a questão única da proposta, uma vez que a relação harmônica com o meio ambiente é apenas uma de várias condições primordiais da boa arquitetura.

O Jardim

O traçado do paisagismo se integra ao conjunto histórico através da continuidade dos fluxos, minimizando o contraste entre o pré-existente e o projetado. A leitura dos diferentes períodos históricos se dá pela variação dos materiais e pelas linhas dos novos canteiros. Assim, fica preservado o jardim da residência Pacheco Leão em harmonia com o novo paisagismo, de modo que ambos são valorizados.

Além da linguagem contemporânea adotada no paisagismo, outra preocupação do projeto foi com a permeabilidade das superfícies. Os materiais adotados como piso ajudam na drenagem das águas pluviais, evitando empoçamento e permitindo que a chuva se infiltre no ponto onde está caindo. A redução do volume de água captado pelo sistema de drenagem urbano contribui para evitar enchentes em outras áreas da cidade. Além disso, parte da água deverá ser coletada e armazenada em uma cisterna, onde poderá ser utilizada para a jardinagem ou até mesmo para o reuso nos edifícios.

A opção por elevar determinados canteiros se justifica pelo aproveitamento de parte da terra retirada para a construção dos novos prédios. Estes canteiros, emoldurados por uma borda de aço, se convertem em elementos escultóricos que complementam o paisagismo. Optamos por uma vegetação exuberante e variada, aproveitando o acervo botânico do próprio Jardim e as árvores transplantadas, criando uma ambiência agradável e adequada ao clima.

Em função da já grande quantidade de árvores de médio e grande porte existentes na área de intervenção o projeto não prevê o plantio de novos exemplares evitando prejudicar a visibilidade das edificações históricas. Portanto, a proposta mantém seu foco no redesenho dos pisos, canteiros e vegetação de forração.

O Museu

O acesso principal ao Museu do Meio Ambiente permanecerá na porta frontal do Edifício Histórico onde serão localizados a Recepção, Foyer, Bilheteria e Ponto de Informações. Nos ambientes laterais com alteração de uso permitida, será inserida a área de Guarda Volumes e a área para Acolhimento dos Grupos Escolares. O acesso de pessoas com dificuldades de locomoção será feito pelo elevador existente, localizado nos fundos da edificação. A partir deste ponto, o visitante é direcionado para as áreas de exposição até o segundo pavimento e de lá para o Anexo, através de uma passarela. No Anexo o circuito segue de forma descendente pelo edifício terminando em um nível semi-enterrado, aberto para uma área de exposição ao ar livre. Neste espaço intersticial foi realizado um recorte no terreno, criando uma praça que une a saída do Anexo à Cafeteria e a Loja do Museu, localizados no porão do prédio histórico.

O projeto do anexo resulta de um estudo volumétrico que priorizou a relação com o Edifício Histórico, respeitando sua proporção. A partir da área de projeção máxima se verificou que o programa exigido para a área de exposição poderia se desenvolver em pouco menos de três pavimentos inteiros. Em seguida, foi feita uma regularização da área de projeção, dando maior afastamento ao edifício em relação à pérgula e algumas árvores do arboreto. A criação do pavimento semi-enterrado reduz o impacto vertical da construção e nivela pontos estratégicos dos dois prédios, permitindo uma ligação através de passarela. Finalmente, o terceiro pavimento foi dividido entre a área de exposição e um terraço voltado para o jardim histórico, o que ameniza ainda mais o impacto visual do edifício frente ao seu vizinho no trecho onde essa relação se torna mais evidente.

Propomos um sistema de estrutura metálica, material reciclável, com pilares locados apenas nas laterais do edifício e vigas transversais altas. Desta forma, é criado um espaço entre forro e laje de piso para que se desenvolvam as instalações prediais de forma independente da conformação dos ambientes internos. A planta livre, associada a uma variação do pé-direito nos diversos pavimentos garante a flexibilidade do projeto museográfico, que conta com espaços de alturas e dimensões diferentes.

Entendemos que devido à sua natureza audiovisual o museu pressupõe uma arquitetura hermética que permite um maior controle da iluminação em seu interior. Portanto, a partir de um volume fechado, foram criadas apenas aberturas pontuais com o intuito de criar visadas específicas da paisagem circundante de modo a incluí-la na própria exposição. Propõe-se ainda a instalação de painéis móveis de treliças de madeira (referência aos muxarabins / muxarabim) sobre estas aberturas criando assim um recurso de controle de incidência solar. O sistema de vedação com placas duplas de madeira deixa espaço para um material isolante termo-acústico, complementando a adequação climática.

Auditório e Administração

Seguindo o partido de prevalência da paisagem pré-existente em relação às novas intervenções, o projeto do auditório e administração respeita a escala da residência Pacheco Leão, não ultrapassando 6,5m de altura. Assim, o bem tombado pode ser observado de forma mais adequada, inclusive do terraço da nova edificação. Isto foi conseguido com a criação de um pavimento semi-enterrado, contíguo a um recorte no terreno onde se desenvolve um anfiteatro ao ar livre. O paisagismo abraça a arquitetura, definindo as linhas do recorte de forma a criar uma continuidade com o restante do projeto.

Outro fator que contribui para a redução da escala é a disposição de rampas ao redor do prédio eliminando a necessidade de elevador e seu maquinário. Da mesma forma, o acesso ao pavimento semi-enterrado e aos níveis rebaixados do terreno é feito por rampa acessível e escadas. Esta solução garante o livre fluxo de pessoas com dificuldades de locomoção por todo o edifício.

As rampas são protegidas por uma estruturar metálica modular com placas alternadas de madeira (opacas), brises (também de madeira) e canteiros verticais, criando um invólucro dinâmico para o edifício e controlando a incidência solar direta. Todos os ambientes internos do prédio podem ser iluminados naturalmente e possuem ventilação cruzada, reduzindo gastos com energia elétrica.

Equipe:
Marco Milazzo
Tom Caminha
André Thurler
Rafael Koury