Biblioteca Direito USP

São Paulo – SP – 2013
cliente: USP
área construída: 4.732,00 m²

Para conceber uma biblioteca contemporânea que atenda as necessidades presentes e futuras de seus usuários, é necessário responder algumas perguntas: o que é uma biblioteca ? para quem ? quando ? como ? a era digital é o fim do livro em papel ?

O uso do livro, sua simbologia e o futuro da leitura são temas constantemente debatidos pela comunidade acadêmica e científica, desde antes de Cristo. As conclusões são sempre as mesmas: a leitura nunca deixará de existir, e o livro impresso como o livro digital, são formas diferentes de interação com a leitura, uma não acabará com a outra, ambas coexistirão.

Da mesma forma, poderia se dizer que o fim do livro causaria o fim das bibliotecas. Mas as bibliotecas nunca deixarão de existir, pois elas não são simplesmente o local onde os livros são guardados.

A biblioteca é um local simbólico, que eleva o objeto do livro à um patamar superior, onde a cultura literária é valorizada. Essencial para manter e aumentar a cultura da leitura. “O livro é por si só um objeto inspirador.” (Norman Foster)

É um espaço de contato com os livros e com as pessoas. O contato íntimo com o livro, o franco acesso aos acervos, a possibilidade de tocar, olhar, escolher, é uma das melhores formas de alcançar a informação desejada. Conhecer pessoas que procuram pelos mesmos assuntos, trocar ideias e informações: o convívio social.
A biblioteca é geradora de um ambiente acolhedor que envolva as pessoas e permita que a leitura se torne mais agradável.

E da mesma forma que os teatros, os cinemas, os museus, e todas as outras arquiteturas armazenadoras e difusoras de cultura, a biblioteca é o local onde o objeto livro é armazenado e preservado. A memória da humanidade. Uma biblioteca universitária possui ainda um caráter mais forte, um significado simbólico importante, como o centro do conhecimento, o coração da universidade.

Como a biblioteca será no futuro é uma incognita, mas alguns pontos importantes nos guiaram para desenvolver nosso projeto:

– O uso do computador e dos livros digitais é uma realidade e a biblioteca precisa ser um espaço que permita a coexistência das diversas formas de leitura, do livro de papel, até as novas tecnologias que ainda possam surgir.

– A biblioteca precisa permitir o aumento ou a diminuição dos acervos, de acordo com a necessidade e o surgimento de diferentes formas de leitura. Permitir que os espaços de leitura se transformem em espaços de acervo e vice-versa.

– A biblioteca deve atrair as pessoas, criar espaços diversificados, com identidades múltiplas, convidativas. Se caracterizar como um espaço cultural e social. Essas características é o que eternizarão o seu uso, independente de qual for o “livro” do futuro.

PARTIDO FORMAL

O Edifício da Biblioteca da Faculdade de Direito da USP está localizado em um ponto central da cidade, abrigando alguns marcos da história paulistana e considerado o principal conjunto de arquitetura barroca da cidade. Apesar da edificação da biblioteca não ter a mesma representatividade de outras edificações históricas, a nossa intervenção procurou manter algumas características da arquitetura original da edificação, e fortalecer sua integração com o entorno imediato. Mantivemos então grande parte da fachada original do prédio e nossa intervenção formal se definiu em 3 pontos:

– Com objetivo de atrair os pedestre para dentro do prédio, abrimos o pavimento térreo o máximo possível, e recuamos a entrada, aumentando a área externa de calçada. Criamos elementos de atração e visibilidade para os pedestres e os carros.

– Retiramos as esquadrias originais e criamos pequenas sacadas, mantendo a modulação mas inserindo elementos diferenciados, como caixas ou gavetas, que se abrem para a cidade, construídas de estrutura metálica revestida com madeira e fechadas com vidro. O espaço gerado funciona como espaço de leitura.

– Ampliamos verticalmente a edificação, construindo uma “caixa transparente”, um elemento bem diferenciado volumetricamente, flutuando sobre o prédio, elemento vivo, iluminado, como o cérebro do corpo.

Inicialmente, ao visualizar a imagem do prédio da biblioteca, a impressão é que a edificação vizinha, na esquina das Ruas Senador Feijó e Cristóvão Colombo, também fazia parte da edificação.

Talvez pelo uso dos mesmos materiais de revestimento, ou da relação volumétrica que ambos fazem entre si. Esta imagem nos induziu a criar uma relação maior entre as duas edificações, e assim nos “aproveitar”do vizinho para valorizar a edificação. Nos limitamos então à ampliar a edificação verticalmente até o limite do edifício vizinho, criando uma relação visualmente mais integrada. Ao mesmo tempo essa ampliação é suficiente para que possamos atender todo o programa solicitado, com o teatro-auditório-cinema de 100 lugares, e uma cobertura-terraço panorâmico.

INTERVENÇÃO INTERNA

Internamente procuramos aumentar os pavimentos incorporando totalmente o prisma de iluminação do fundo do terreno e ocupando uma parte do prisma de iluminação central.

O prisma central foi transformado em um canal de comunicação entre os pavimentos, maximizando o seu potencial de iluminação. Retiramos todas as paredes, e inserimos guarda-corpos de vidro translúcido. Para garantir o condicionamento do ar, o prisma foi vedado com uma interface dupla ventilada de policarbonato e vidro, que mantêm a entrada de luz indiretamente. E na cobertura o prisma também continua recebendo iluminação indireta. Os acervos e funções foram distribuidos pelos pavimentos de acordo com a maior ou menor necessidade de luz. Andares superiores com maior iluminação e andares inferiores com menos iluminação. A mesma solução de revestimento translúcido foi utilizada no prisma dos fundos. Assim as áreas próximas aos prismas foram destinadas à leitura e consulta, e as áreas já existentes dos pavimentos, mais protegidas e com menos iluminação natural, foram destinadas aos acervos.

O novo pavimento de cobertura é totalmente construido para receber iluminação indireta, uma grande caixa de vidro e policarbonato, formando um “sanduíche” ventilado, e protegido do sol por brises.

DISTRIBUIÇÃO PROGRAMÁTICA

Propomos um projeto que permita distribuição programática e layouts flexíveis, onde as áreas de acervo, leitura e pesquisa possam ocupar menor ou maior espaço. Nosso projeto permite a flexibilização por pavimento e/ou entre pavimentos.

O pavimento térreo é dividido em área pública e área restrita. Logo na entrada o balcão de recepção e informações direciona quem deve entrar na biblioteca, ou visitar o espaço multi uso, o café e a loja de souvenires.

No próprio balcão o usuário da biblioteca pode deixar seus pertences no guarda-volumes, fazer qualquer tipo de cadastro, reservar, receber ou devolver livros. Caso queira utilizar a biblioteca, o controle de entrada e saída pode ser feito no térreo, deixando livre acesso aos andares do prédio. A circulação vertical é feita através de dois novos elevadores, pela escada principal localizada no antigo prisma de iluminação, e ainda foi projetada uma escada de emergência. Caso seja necessário o controle de acesso pode ser feito individualmente para cada pavimento, já que todas as circulações verticais se concentram no mesmo ponto em todos os pavimentos. Isso também possibilita a setorização de cada pavimento em duas partes. O subsolo foi utilizado para acomodar parte dos serviços e administração da biblioteca. As funções de aquisição, automação, indexação, produção, processamento, encadernação, reparos, restauro, quarentena e reserva técnica foram alocadas nos dois pavimentos do edifício Cláudio Lembo.

Para os outros pavimentos propomos uma distribuição baseada nas necessidades e considerações relevantes explanadas nas bases do concurso, mas que podem ser alteradas futuramente de acordo com a necessidade e o aumento ou diminuição do acervo:

O Acervo Especial foi localizado no primeiro pavimento, facilitando o acesso e garantindo maior segurança e conexão com o balcão principal. No segundo pavimento está localizada a área de docentes e graduandos e a reprografia.

No terceiro pavimento está localizada o acervo de teses, folhetos e separatas. Do quarto ao oitavo pavimento está o acervo de livros, salas de leitura individuais e coletivas.

O nono pavimento é o setor multimídia, que pode ser organizado e divido para funcionar de diferentes formas. No décimo pavimento está localizado o teatro-cinema-auditório e o acervo de períódicos.

 

 

O último pavimento é um terraço coberto, que se integra com o décimo pavimento através de uma grande escadaria, criando um espaço de reflexão, contemplação, leitura, descanso, juntamente com um segundo café.

CONDIÇÕES AMBIENTAIS E INSTALAÇÕES

O uso do condicionamento de ar artificial é fundamental para assegurar a qualidade de preservação dos acervos. O uso de dutos não é possível devido ao baixo pé-direito da maioria dos pavimentos, portanto achamos conveniente adotar sistema de água gelada com fancoletes, possibilitando controle individual por setores e pavimentos. Foram reservadas áreas no térreo e cobertura para instalação dos chillers.

Através de um grande shaft correrão todas as novas instalações sanitárias, elétricas e a distribuição da água gelada para os fancoletes de teto e de parede dos pavimentos.

Em cada pavimento há um conjunto de sanitários masculino e feminino, próximos ao shaft e à escada de emergência, criando um núcleo de circulação e instalações.

A iluminação artificial é a mais adequada para preservação do acervo, mas aproveitamos a iluminação natural indireta para algumas áreas dos pavimentos, criando setores mais iluminados e outros menos iluminados.

Equipe:
Marco Milazzo
Daniel Lima Teixeira
Matheus Ladeira
Julio César Scremin
Diana Tavares de Sousa
Karen Wanesca